Vacinas em desenvolvimento para o combate ao câncer começam a dar resultados positivos

As vacinas ainda não são eficazes para o câncer já estabelecido, mas previnem infecções por vírus que podem causar alguns tipos de tumores.

No mundo todo, multiplicam-se os estudos em busca de vacinas contra o câncer. E não é de hoje. As primeiras pesquisas remontam ao final do século XIX, com a emergência da imunologia, a descoberta dos anticorpos e, na metade do século passado, da estrutura do DNA. Nas últimas décadas, os conhecimentos sobre a genética e a doença avançaram muito, assim como as formas de tratamento, inclusive a imunoterapia, que estimula a reação do sistema imunológico para inibir o tumor. Mas, em se tratando de vacina, os resultados ainda estão em fase inicial.

Por enquanto, as vacinas de eficácia comprovada combatem não o câncer já estabelecido, mas vírus causadores de lesões que podem gerar tumores malignos. É o caso da vacina contra a hepatite B, relacionada à ocorrência de câncer no fígado, disponível e incorporada na vacinação rotineira no Brasil desde 1998. É também o caso da vacina contra o papilomavírus humano (HPV), que protege contra os quatro subtipos responsáveis por cerca de 70% das lesões que podem evoluir para câncer de colo de útero. A vacina contra o HPV foi disponibilizada comercialmente no País em 2006, mas ainda não é oferecida pelo sistema público de saúde, embora o câncer de colo de útero seja o segundo mais prevalente entre a população feminina, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Embora o acompanhamento das pacientes vacinadas ainda não seja suficiente para obter dados definitivos, acredita-se que a vacina irá diminuir em mais de 90% os casos de câncer de colo de útero. Para maior eficácia, ela deve ser ministrada preferencialmente antes que o organismo tenha contato com o vírus – portanto, antes que a mulher inicie sua vida sexual. A faixa etária entre 9 e 25 anos de idade é o principal público-alvo para imunização. A vacina contra o HPV também é eficaz para prevenir o câncer de pênis. No entanto, por ser mais raro – embora tenha uma certa ocorrência em regiões de extrema pobreza – nenhum país estabeleceu como diretriz a vacinação contra o HPV para pacientes do sexo masculino.

O desenvolvimento de vacinas para combater tumores malignos estabelecidos baseia-se em princípios diferentes dos da vacina clássica, que visa a prevenir doenças. O que se pretende é estimular as defesas do organismo a atacar a doença já instalada. Uma das frentes em estudo envolve as células dendríticas, que induzem a resposta imune do organismo. Elas são retiradas do sangue e cultivadas em laboratório com células cancerígenas do paciente ou proteínas típicas do tumor. Depois, são reinjetadas no paciente, a fim de estimular a resposta imunológica que combate a doença.

Nessa linha de vacinas, em abril deste ano o Food and Drug Administration – FDA, órgão de controle de medicamentos dos Estados Unidos, liberou a vacina Sipuleucel-T, para tratamento de câncer de próstata que já apresenta metástase – quando a doença se espalha para outras regiões do corpo – e é resistente à terapia hormonal convencional. O estudo clínico, publicado no New England Journal of Medicine, mostra que, embora não tenha evitado a progressão da doença, o grupo de pacientes que recebeu a vacina obteve uma sobrevida quatro meses superior à do grupo que não recebeu. Por ora, o produto está disponível apenas em algumas dezenas de hospitais norte-americanos, e o custo do tratamento, que consiste em três aplicações da vacina, é de mais de U$ 90 mil.

O que torna complexo o desenvolvimento de vacinas contra o câncer é a imensa diversidade de células malignas. Por isso, o sonho de uma única vacina capaz de curar todos os tipos de câncer é considerado improvável. Os estudos em andamento, especialmente para tumores de maior prevalência, como mama, pulmão, próstata e melanoma (câncer de pele), apontam na direção de vacinas mais individualizadas, ou seja, destinadas ao combate de tipos cada vez mais específicos de tumores e, portanto, beneficiando perfis específicos de pacientes. Assim, é possível que algum dia existam vacinas eficazes para um subtipo de alguns desses tumores, ou até vacinas customizadas unicamente para um paciente. No contexto de diversos outros avanços no tratamento oncológico, as vacinas são uma evolução promissora, que devem ajudar a diminuir a mortalidade por câncer nas próximas décadas.

Fonte: Sociedade Beneficiente Israelita Brasileira Albert Einstein